Dark River, filme da diretora e roteirista britânica Clio Barnard, conta a história de Alice (Ruth Wilson) que, após quinze anos ausente, retorna à fazenda da família por ocasião da morte de seu pai. Lá ela reencontra seu único irmão, Joe (Mark Stanley), que não via desde que era um adolescente. Desde o início fica claro que a infância de ambos deixou suas marcas e a relação entre eles é tensa. Há um clima de suspense, se trata de um filme de fantasmas, mas não do tipo sobrenatural e sim daqueles criados por traumas profundos.
O filme se passa em North Yorkshire, no norte da Inglaterra, e a melancolia da paisagem é presente na bela fotografia do brasileiro Adriano Goldman. A vida no campo é árdua, mas Alice é habituada e está disposta a cuidar das terras deixadas pelo pai, até então largadas displicentemente pelo irmão. Cada um tem uma ligação diferente com o local e também em relação à memória do pai, Richard (Sean Bean), cujas ações tiverem impacto decisivo na vida de ambos. A tensão aumenta gradativamente até explodir, como uma ferida cujo conteúdo pútrido oculto é expelido à força por uma grande pressão.
Ruth Wilson carrega o filme apenas usando linguagem corporal e seus olhos cheios de expressividade. Mark Stanley, que interpreta o irmão, também transmite bem o peso absurdo carregado por seu personagem. Alice é a pessoa que sofre em silêncio e busca desesperadamente dar um sentido para sua vida, apesar de sua tragédia. Joe é o contraponto, explosivo e emotivo, incapaz de superar seu passado.
Dark River é um filme pesado, denso, que joga o espectador no mundo doloroso da protagonista. É reflexivo também, nos fazendo pensar no quanto uma pessoa pode ter a vida arruinada por alguém próximo, alguém que supostamente deveria ser da mais absoluta confiança. Não há felizes para sempre mas, no fim, vemos que existe ainda amor para prosseguir.